Comentários e opiniões sobre a actualidade nacional e internacional, económica e não só.
Quinta-feira, 29 de Novembro de 2007
Novamente sobre o aeroporto
Sobre o tema do aeroporto e agora da Portela+1, um leitor fez vários comentários que talvez espelham a opinião de muitos outros.

Aqui vai a minha opinião.

É preciso um novo aeroporto para a capital do país por várias razões:
. O aeroporto da Portela em termos de infraestrutura está obsoleto, a realidade aeroportuária e económica actual é completamente diferente agora do que era em 1942. O aeroporto tem sido obrigado a ter remendos muito dispendiosos nos últimos anos que são apenas remendos que pouco resolvem;
. O aeroporto estando no meio da capital tem impacto ambiental  sobre a cidade em termos de ruido e poluição;
. O aeroporto é um risco para a cidade. Com aviões a levantarem e aterrarem sobre a densamente urbanizada Lisboa, a queda de um avião faria o 11 de Setembro parecer uma brincadeira de crianças. Existem simulacros da queda na aterragem, caindo na zona do Campo Grande/Av. de Roma/AV dos Estados Unidos que são reveladores.

A alternativa da Associação Comercial do Porto que "poupava dinheiro", Portela + 1, é um estudo puramente economicista não tendo em conta por exemplo infraestruturas rodoviárias e ferroviárias por exemplo nem todos os restantes factores a considerar num estudo desta dimensão.

É naturalmente patrocinada pelo lobby do Norte (Cadilhe, Ludgero Marques, Rui Moreira) para o qual qualquer investimento a Sul do Mondego deve ser evitado, ainda mais receando o agravamento do declíneo por culpa própria do Norte em termos de peso sócio-económico no país.

Também ter em consideração que o próprio estudo da ACP refere que lá para 2030 tinha que ser criado um aeroporto de raíz (naturalmente mais caro e com menos fundos comunitários), ou seja não passa mais de um adiar da decisão, como já vem sido adiada desde início dos anos 70. A opção Alcochete+Portela é uma diferente versão do previsto caso se escolha Alcochete.

Quanto ao aeroporto do Montijo a ser retirado à utilização militar, quais os considerandos e consequências para essa decisão ? Tira-se às Forças Armadas o Campo de Tiro, tira-se a Base Aérea (porque será que está perto da capital ?) sem conhecimento da possibilidade e factores a ter em conta com essa decisão ?

A resposta já foi dada nesse aspecto :
"A Base Aérea do Montijo não poderá ser usada para acolher a construção do novo aeroporto de Lisboa, como propõe o estudo da Associação Comercial do Porto (ACP). O ministro da Defesa, Severiano Teixeira, já classificou a base como fundamental “para a Força Aérea e para o País” e, por isso, irá manter-se. A importância estratégica da base aérea, quer para Portugal, quer para a NATO (que recentemente investiu no local), faz com que não possa ser equacionada a sua utilização para outros fins que não sejam militares." In Correio da Manhã

Mas mesmo admitindo que tal não fosse, quantas capitais tem 2 aeroportos civis ? E principalmente, que tipo de aeroportos são esses ? São um aeroporto obsoleto e sobrelotado no meio da cidade com os riscos já referidos e um ex-aeroporto militar que para ser "baratinho" (veja-se o custo que foi os últimos remendos na Portela) parecia um aeroporto de 3º mundo ? Teremos nós capacidade financeira para os muitos custos duplicados de 2 aeroportos "remendados" ?

TGV
Segundo o sugerido o TGV iria directamente ao Montijo e depois faria "marcha-atrás" para ir até Lisboa a "baixa velocidade" ? Será mesmo a solução a ser adoptada para o TGV seja onde for que fique o aeroporto ? Se o TGV pretende competir com o avião por exemplo nas viagens Lisboa-Porto, desvios a baixa velocidade seja por onde for não serão própriamente a melhor ideia. E seria a primeira capital sem ser servida directamente pelo TGV.

A hipótese implícita ("TGV poderia ficar junto ao Aeroporto no Montijo, mas já está decidido que chegue à Gare do Oriente, portanto assim será, mas poderão aproveitar uma parte do traçado da linha já existente entre o Barreiro, Caia e Badajoz, poupando-se algum dinheiro em expropriações" de que o terminal do TGV não fosse sequer na Gare do Oriente mas apenas no Montijo roça o lirismo. O barato sai caro como se sabe.

Quer dizer, quem viesse da Europa ou do Porto até Lisboa pararia no Montijo e mudaria de comboio para um comboio mais "lento". Era lindo para a atractividade e rentabilidade do TGV. Tendo em conta o importante polo turistico da área Lisboa-Cascais era um excelente atracção para o turista dizer-lhe "chegas ao Montijo e sais de armas e bagagens para apanhares outro comboio para a cidade de destino, Lisboa". Já agora, quantas pontes seriam necessárias para tudo isso ? Que custos teriam ? Quantos passageiros não quereriam utilizar táxi ou autocarro para o percurso Montijo-Lisboa congestionando ainda mais o trânsito da capital ?

E a justificação de que "a margem sul é uma zona plana e é, por excelência, o local de expansão da cidade de Lisboa, limitada que está a Norte por uma cadeia de serranias" não colhe. Executivos e turistas que queiram vir a Lisboa não terão própriamente grande interesse em que o TGV sirva os arrabaldes de Lisboa sejam eles para a margem sul, para norte ou para Oeste. Querem visitar Lisboa-Centro e/ou zona Sintra-Cascais.

Tirando Troia no turismo e mesmo aí a vantagem nem é assim tão grande em termos de distância-tempo, também não vejo o Complexo Industrial de Sines ou a AutoEuropa como grandes pontos de interesse para a maioria dos passageiros do TGV ou, ainda mais, pontos que fariam com que não houvesse interesse em ter a estação de TGV em Lisboa mesmo para aqueles que se dirijam a esses locais específicos.

Acha sinceramente que os espanhois que escolhessem o TGV para virem a Portugal preferirão ficar no Montijo em vez de Lisboa quando vierem para estes lados por exemplo na Páscoa  ?  Que gostaram de terem que mudar de comboio com todas as chatices e tempo perdido para continuarem até Lisboa ?

Repito, dizer "o TGV nem necessitaria de chegar a Lisboa, ficaria muito bem no Montijo, mas como a decisão já foi tomada e vai mesmo até à Gare do Oriente, não vou insistir mais nisso." não é própriamente a melhor forma de analisar o tema. Como diz, e bem, nem insista mais.

"Estranhamente" ou talvez não o TGV e o seu equivalente no percurso Paris-Londres param em Madrid, Paris, Londres, Bruxelas, Berlim, etc. e não em cidades a 10 km. Não será porque uma vantagem competitiva do TGV é permitir sair no centro das cidades ao contrário dos aeroportos que devido a todos os efeitos negativos e riscos de um tráfego cada vez maior devem ficar fora do centro das cidades ? Leia o artigo que referi neste blog.

E já agora,o percurso Lisboa-Porto e Porto Lisboa seriam transformados em Montijo-Porto e Porto-Montijo, perdendo grande parte dos passageiros, nomeadamente executivos que não estão andar em chatices, perder tempo, mudar de comboios não era ?

Quanto a : "Caso o Governo insista em desactivar o aeroporto da Portela..."

Mas acha que isto é apenas uma "decisão do Governo" ? Até quando espera que aguente o aeroporto da Portela ? A própria ACP considera como limite 2030 ("amortizando-se" pouco mais de uma dúzia de anos). E mesmo em 2030 tudo o relacionado com o começar quase de novo com a desactivação da Portela e o novo aeroporto sairá naturalmente mais caro e com menos fundos comunitários como já foi referido.

E caso já tenha viajado de avião e concerteza comparado a Portela com aeroportos de outras capitais em todos aspectos, quer manter a Portela apenas por curiosidade no que lhe acontecerá se o avião tiver dificuldades no meio de Lisboa ao levantar ou aterrar ?
 


publicado por HomoEconomicus às 18:58
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