Comentários e opiniões sobre a actualidade nacional e internacional, económica e não só.
Terça-feira, 4 de Setembro de 2007
Economês
Durante as últimas semanas têm vindo a lume notícias que se tornam mais fáceis de analisar através do chamado "economês" (conhecimento básico das bases e linguagem da economia), que ajuda a compreender muita da situação do país em geral.

Desemprego dos professores
Não deixando de ser um problema grave naturalmente, o desemprego dos professores (ter em atenção que alguns ainda são apenas licenciados que querem ser professores) era previsível.

É uma questão de oferta e procura. A oferta de licenciados que tiram cursos para se tornarem professores aumentou em mais de uma centena  de milhar nos últimos anos, ainda mais em cursos na área de letras e sociais cuja procura como professor e mesmo nas outras áreas de actividade tem caído fortemente.

A procura no sistema educativo tem diminuido e o Estado naturalmente não é obrigado a dar emprego a esta classe de licenciados assim como não é obrigado a dar emprego a quem quer que seja a não ser que exista trabalho para fazer.

Não se pode cobrar mais impostos ou desviar verbas apenas para criar "falsos empregos" que seria políticamente muito correcto mas um desastre para o país.

Por isso :

. As "exigências" sindicais de que o Estado tem que empregar todos os que querem ser professores são no mínimo ridículas.

. A falsa solução que os sindicatos apresentam  de aumentar o número de professores para os mesmos ou menos alunos é apenas isso, falsa solução e criação de falsos empregos. Portugal já é dos países da OCDE que menos alunos tem por professor (todos os outros dados dos nossos exageros no sistema educativo já foram referidos neste blog).

. E agora virem os mesmos sindicatos dizerem que não concordam com os novos requisitos de exigência para todos os que queiram ser professores, nomeadamente saber bem português, saber comunicar, e conhecer bem a área que leccionam, com a justificação de que os professores "podem estar nervosos nas provas" provam o ridículo e falta de credibilidade sindical cujo único objectivo é atacar qualquer governo (dado que da cor deles dificilmente o será), por tudo e por nada. E mostra como os sindicatos continuam a querer a balda completa. Todos os que queiram devem ser professores, todos devem subir até ao topo da carreira, etc., etc.

E os portugas que paguem a conta porque nem bons resultados existem.

Apenas deve ser dado um aviso a todos os que queiram tirar cursos para serem professores, por vocação nuns casos, por fuga às matemáticas noutros. O emprego vai escassear, existem quase 50 mil professores no desemprego.

Tirar um curso desses é por conta e risco do próprio. Depois não se queixe.

 
O poder de compra dos portugueses

Custo de vida em Portugal é 20% inferior ao da UE15
O nível de preços médio em Portugal é cerca de 20 por cento mais baixo do que o da média da União europeia a 15 (UE-15).Ou seja, para comprar um cabaz de bens que, a preços médios europeus custe 100 euros, os consumidores portugueses teriam de gastar apenas 82 euros, segundo o «Diário Económico». Boas notícias? Nem por isso. É que se o nível de preços é inferior ao da UE15 em quase 20%, o poder de compra dos portugueses é, ainda assim, bem inferior ao da média comunitária: os últimos dados da OCDE mostram que os portugueses ganham menos 40% do que a média comunitária e são mesmo os mais mal pagos da UE15.
in Diario Digital

Esta-se a falar de valores médios e sabemos que se por exemplo a região de Lisboa está acima do descrito, existem regiões portuguesas bastante abaixo. No entanto a notícia indica que em termos médios o que se costuma ouvir que "Na Alemanha ou França se ganha 2, 3, 4 vezes mais" apenas pode acontecer em certas situações específicas e tem que se descontar o nível de preços nesses países.

Em termos gerais e considerando a chamada paridade poder de compra (ppp), comparando o preço de um cabaz alargado de compras de bens e serviços entre os vários países, tal significa que o português tem um nível de vida de 20% abaixo da média da União Europeia a 15. E isto porquê ? De uma forma muito simplista temos um nível salarial 40% inferior à média da UE-15 e um cabaz de bens e serviços 20% mais barato.

Quanto aos 40% de salário abaixo da média da União Europeia, tal deve-se a vários factores, nomeadamente menor produtividade, maior peso de industrias tradicionais de baixo valor acrescentado, maior percentagem de população com nível educacional muito baixo que leva a terem menor produtividade e trabalharem em sectores de menor valor acrescentado, etc.

São estes aspectos que temos que mudar para o país se aproximar da média da União Europeia a 15.

Os imigrantes e a oferta e procura de trabalho.

Por vezes os imigrantes são acusados de todos os males do nosso país e faz-se passar a imagem que todos eles decidiram escolher o nosso país para virem trabalhar. Porquê essa opção ? Pelos nossos lindos olhos ? Por termos Vasco da Gama e Cristiano Ronaldo ? Para "beneficiarem" do nosso "maravilhoso" sistema de segurança social ? Pelo "elevado"  nível salarial ?

Claro que não. Tal como os portugueses foram para países onde havia trabalho, o mesmo se passa com os imigrantes. E se a procura de trabalho diminui, se a taxa de  desemprego aumenta, a oferta de trabalho de imigrantes desce, indo eles naturalmente procurar trabalho noutras paragens.

Basta ler ...

Número de imigrantes em Portugal atinge nível mais baixo dos últimos cinco anos
O número de estrangeiros residentes em Portugal atingiu, no ano passado, o valor mais baixo dos últimos cinco anos.
De acordo com um relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), esta tendência de quebra, que terá sobretudo que ver com a falta de emprego, tornou-se mais evidente a partir de 2004. Desde então verificou-se um decréscimo de 8,5 por cento no total de estrangeiros registados no país.
Depois de se ter sentido, como nunca nas últimas décadas, uma entrada maciça de trabalhadores estrangeiros em Portugal, a partir de 2001 — ano em que se verificou o maior processo extraordinário de legalização de sempre —, em 2005 parece ter ocorrido uma autêntica debandada do país, que se prolongou durante o ano de 2006.
in Diário Digital


publicado por HomoEconomicus às 09:01
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